Organização: Paula Chiaretti (Univás) e Leda Verdiani Tfouni (USP)
Esta seção temática se dedicará a publicar textos que busquem trabalhar em suas articulações teóricas e analíticas questões pertinentes à compreensão do funcionamento da linguagem de genéricos discursivos tais como provérbios, slogans, máximas, rezas, fórmulas adivinhatórias, ditos populares, que constituem resumos historicamente constituídos das experiências e atividades do homem sobre o (no) mundo, e codificam os valores e crenças de uma cultura, que se caracterizam por ser fórmulas que codificam o conhecimento do mundo e da experiência factual de gerações e que ficam condensadas em um único enunciado, como: “Homem não chora”, “É de pequenino que se torce o pepino”, ou “Jogou fora o bebê com a água da bacia” (este último é um dito popular que mostra a relação com o humor). Os genéricos derivam de uma cristalização de repetições linguageiras, de cunho deôntico (em geral, contêm um “ensinamento de ordem moral). São enunciados mínimos, de estrutura sintática simples. De modo geral, podemos afirmar que esse discurso se caracteriza por produzir um efeito de atemporalidade, apresentando-se como a-histórico, de modo a dissimular o caráter contingente da sua formulação. Desde esse ponto, também podemos considerá-lo um material linguístico privilegiado na compreensão do funcionamento do esquecimento n. 2, de Pêcheux, já que o genérico discursivo aponta para um fechamento de sentido, um ponto de partida ou chegada exato, favorecendo a ilusão de realidade do pensamento, bem como, porque, ao apresentar-se, com frequência por meio de uma fórmula sintética, fixa e invariável (“não poderia ser dito de outra maneira”), fortalece a interdição de qualquer paráfrase. Por outro lado, aparece, frequentemente, como um discurso citado, ainda que a autoria aí possa ser tomada como uma questão própria a esse discurso: retoma-se o já-dito, mas por quem? O caráter anônimo dessa produção também nos coloca questões a serem exploradas. Nesse sentido, buscaremos, ainda, dar espaço a trabalhos que levem em conta o processo interpretativo que modula a restrição ou abertura desses genéricos, já que a “aparente descontextualização é enganosa, visto que se prestam ao uso em inúmeros contextos”. Reboul (1975) apresenta uma classificação desses genéricos, procurando fazer uma distinção entre o slogan e as outras fórmulas: a norma, as palavras de ordem, a divisa, e, finalmente, o slogan, do qual sua obra trata. Outro ponto importante a considerar é que, como o sujeito, para a Análise do Discurso, não é o dono nem a origem do sentido, podemos incluir aí as noções de memória discursiva, de história da produção de sentidos, e também de alteridade. Quem pode nos socorrer nesta discussão é a psicanálise, quando afirma que é impossível fazer “um”, pois o sujeito do discurso é dividido por definição. Chemama, falando sobre os provérbios na experiência psicanalítica, afirma que “[…] só se pode dar conta da experiência do real na forma proverbial” (2002, p. 25), pois, ao usar estas fórmulas encapsuladas, o sujeito anula-se enquanto locutor e refugia-se, através da língua, no grande Outro irredutível. É, portanto, o domínio do Outro sobre o sujeito que os genéricos indiciam. Passando, então, da objetividade e do efeito de eficácia que o genérico discursivo produz para a complexidade dessa formulação, os trabalhos publicados nesta seção temática buscarão, de modo geral, compreender o processo de produção de sentidos em jogo nessa materialidade discursiva.
Os interessados devem submeter suas contribuições na plataforma online da revista Entremeios (http://www.entremeios.inf.br/), na opção seção temática, até o dia 01 de outubro de 2020.
Todos os textos serão submetidos a avaliação pelos pareceristas da revista.
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